O Jogo de Buzios

 


O Jogo de Búzios ou Merindilogun, tornou-se no Brasil, o sistema oracular mais amplamente aceito e difundido. Raros são os indivíduos residentes em nossa terra que nunca tenha recorrido aos seus serviços quer seja por simples curiosidade, que seja por real necessidade.

 A preferência do brasileiro por este sistema verifica-se, provavelmente pela inexistência de Babalawo no Brasil, o que torna absolutamente impossível o acesso aos dois processos adivinhatórios anteriormente descritos, enquanto que os búzios podem ser jogados por qualquer um que seja iniciado no culto dos Orishás, independente de cargo, grau ou hierarquia.

 É Eshú quem através dos búzios, intermedía a comunicação entre os homens e os habitantes dos mundos espirituais, levando os pedidos e trazendo os conselhos e orientações, os recados e as exigências.

 Uma outra vantagem que o jogo de búzios apresenta sobre os outros sistemas oraculares existentes em nossa terra é o fato de não somente diagnosticar o problema, como também apresentar a solução através de um procedimento mágico denominado ebó.

 Nossa proposta é descrever minuciosamente a técnica e a magia do verdadeiro jogo de búzios, na forma exata como é praticada pelos advinhos africanos e se fizermos uma ligeira referência sobre os demais processos divinatórios(Ikin e Okpele), foi com o objetivo de ressaltar a sua maior importância e esclarecer que aqueles procedimentos não podem nem devem ser acessados por pessoas não iniciadas no culto de Orunmila, sendo sua prática terminantemente proibida a pessoas do sexo feminino, assim como a todos os que pratiquem o homossexualismo.

 Necessária se faz uma explicação sobre a principal chave do sistema divinatório objeto de nossos estudos, as figuras ou signos denominados Odú, portadoras das revelações e mensagens que tornam possível a existência do Oráculo assim como sua coerência.

O que é Odú? - Qual a sua relação com o sistema divinatório e com o ser humano? - Não faz muito tempo, o tema era considerado segredo e o termo Odú, assim como o nome das dezesseis figuras eram considerados tabu. A simples menção de um destes nomes na presença de iniciados de alta hierarquia era dita e havida como falta de respeito, como um verdadeiro sacrilégio. Esta postura radical concorreu para que a maior parte do conhecimento sobre o tema desaparecesse através dos anos, na medida em que aqueles que o detinham, negavam-se a transmiti-lo, levando para a sepultura o que lhes havia sido legado por seus antepassados, colocando desta forma, para o efetivo esclarecimento de subsídios fundamentais e indispensáveis ao correto procedimento oracular.

 Na década de 80, o Brasil formalizou um contrato de intercâmbio cultural com a Nigéria, o que possibilitou a vinda de inúmeros estudantes nigerianos para nosso país. Este grupo relativamente numeroso, foi dividido entre as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde passaram a fazer parte das diversas faculdades para nelas cursarem diferentes cadeiras de nível superior. Ocorreu então um fenômeno muito interessante. Aqueles jovens, quase todos de formação evangélica, ao sentirem o interesse dos brasileiros pela religião original de sua terra, vislumbraram ai a possibilidade de auferir algum lucro e sem o menor escrúpulo, passaram a divulgar os conhecimentos que trataram de adquirir através de livros especializados e publicados em Yoruba. O retorno financeiro era rápido e substancial e a avidez dos menos escrupulosos levou-os de proceder iniciações e até mesmo de formar grupos de Babalawo, abusando de forma vil da boa fé e do espirito hospitaleiro de nossa gente. Isto provocou a divulgação desordenada e pior que isto, deformada do significado dos Odu de Ifá e a partir de então, antigos manuscritos pertencentes a tradicionais famílias sacerdotais, caíram de forma espúria nas mão de pessoas nem sempre bem intencionadas, que deram a eles o uso e a interpretação que melhor convinha aos seus interesses pessoais, uma vez que lhes faltava o subsidio essencial para a prática oracular que é a interação com o sagrado, só obtida através da iniciação e do ritual.

 Independente de todo o malefício que os jovens estudantes africanos nos trouxeram, não seria justo que omitíssemos os muitos benefícios que também foram por eles prestados à nossa religião. Alguns poucos, dentre estes estudantes, pertenciam a famílias que praticam ainda hoje o culto aos Orishas e foram estes que assustados com a atitude desrespeitosa de seus colegas procuraram colaborar através de esclarecimentos, para um melhor direcionamento de nossas práticas, através de cursos de idioma Yoruba e da tradução de itan, ese e oriki, que foram a estrutura de nossa religião e onde estão contidos quase sempre de forma alegórica, os seus originais fundamentos.

 Odu tornou-se, a partir de então, assunto corriqueiro, cada um quer saber mais do que o outro, 

mas a grande maioria carece de esclarecimentos e subsídios suficientemente sólidos para que possam declarar-se, como ousam fazer, profundos conhecedores do assunto.

 Trata-se na verdade de uma abstração muitíssimo complexa de difícil compreensão, desprovida de individualidade, podendo ser vista or como determinante de um acontecimento, de uma situação eventual, ora como um caminho, um acesso, um canal de comunicação ou um carma individual ou coletivo.

 Os Odu de Ifá são divididos em duas categorias distintas, a saber:

 Os Odu Meji (duplo ou repetidos duas vezes). 

São em números de dezesseis e compõem a base do sistema, sendo por isto conhecido também como Odu Principais.

 Os Omo Odu ou Amolu, resultado da combinação dos 16 Meji entre si, o que proporciona a possibilidade de surgimento de 240 figuras compostas ou combinadas que somadas aos dezesseis principais totalizam o numero de 256 figuras oraculares. 

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